Por Helena Frenzel
Mulher barriguda a ninguém intriga, mas, da
noite pro dia, crescer u'a barriga?!
E a filha de Tonha, assim, de repente, surgiu de
barriga — surpreendente! Pelo tamanho da pança, com bem uns cinco contavam e,
pelas contas da mãe, umzinho faltava: se dois é pouco e três é melhor, que
dirão de quatro?! E de quatro ficou o povo, besta, ao saber: “Quatro marias,
Seu Menino, quatro marias vão nascer!” E fizeram assim assim: “Ajude a filha de
Tonha, doe aqui, doe acolá, pois a pobre não tem nada, nem marido para dar!“ “E
quem foi o responsável por esta geração?” A varinha de condão à sombra de um
jatobá, e a cópula, ao pé, debaixo da copa do pau, da árvore, digo. Menino, foi
aquela comoção, bem típica da região. Só não creu nisso o Juvenal, filho de Zé
do Coco, que estudara na capital e voltara pra terrinha cheio de vontade de
ajudar o povo (a se instruir e melhorar). Qual o quê, ignorância é manta de
cetim que o povo adora vestir. Quem entende logo isso, e deixa Fufu Lalau,
taxado é, rapidinho, de egoísta, ‘traíra’ e tal. Sabendo bem das coisas, foi
Juvenal ao grão: “Vou perguntar ao médico que cuida da região.” “Pois há quatro
meses, grávida estava não”, disse o médico sem receio. Menino, veja o resultado
do falado embaraço: além de perna curta, barriga inflada e cara de pau —
aberração, que em Fufu Lalau há muito virou normal. “Devolva minha doação”, uns
foram reclamar. Devolver, nada devolveram e quem deu não quis brigar. E a filha
de Tonha, ainda foragida, nunca mais pôs a cara na rua, que dirá a barriga.
Mudou-se pra bem longe, dizem, teve tudo o que queria: fez transplante de
rosto, lipoaspirou a barriga. A conta da mentira: sete vezes sete, sem juros e
em prestações, pagou com a cara mais limpa e as arrecadações. Mas como em Fufu
Lalau o povo é muito bonzinho, mais dia menos dia e ninguém falou mais nisso.
Mas o besta do Juvenal, que pra não perder a memória registrou tudo nos livros,
ao fazer-me uma visita contou-me este ocorrido. Pois é, Juvenalzinho, como bem
já haviam dito: pra extinguir a malandragem, só acabando com os bonzinhos.
Causo inspirado em contos do vigário da vida
real, aqui contado com elementos de fantasia, portanto: irreal. Qualquer
semelhança com nomes de pessoas ou lugares, pura coincidência.
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Este causo faz parte da coletânea Outros Quinze Contos (2012). Clique aqui para baixar uma versão em PDF, tamanho reduzido.
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