sábado, 8 de setembro de 2012

O Causo dos Infartados - III


Por Michele Calliari Marchese
O Causo do Romeu
Sempre se fala de causo de cemitério e todas essas coisas relacionadas com os mortos. Acontece que ninguém dá muito crédito para essas histórias, mas elas são verídicas porque foram contadas para os filhos e aos filhos dos filhos.
Esses causos aconteceram um de cada vez em intervalos de alguns anos, e é por isso que não se deve ir ao cemitério sozinho de noite ou de dia, ou com a cabeça já cheia de medo e pensando bobagem quando se entra lá.
O terceiro causo aconteceu com o Romeu.
O Romeu era homem muito temente a Deus e deveras alto. Devia medir uns bons dois metros de altura e todo mundo enxergava ele, onde quer que fosse.
Já contava com 50 anos de idade e começou a ficar preocupado porque não tinha ainda terreno no cemitério para fazer a tumba da família. Falou com as autoridades competentes no assunto, e acabou comprando por um preço baratinho do coveiro um belíssimo pedaço de terra, na segunda esquina com a Cruz Mestra. Levou toda a família lá para ver o investimento.
Contratou um pedreiro para fazer o esquife da família e deixou claro o tamanho do féretro para que não houvesse problemas na hora de enterrá- lo, já que era alto.
Dali dois meses o serviço ficou pronto e o Romeu, antes de pagar o pedreiro, quis conferir se a coisa tinha ficado boa e comprida. Como ele morava no Peral, mesmo a cavalo demorava muito para chegar ao cemitério, e só valia a pena se tinha alguma coisa para fazer na cidade, pois teria que passar o dia lá e só voltar no dia seguinte para casa.
Como ele tinha um filho nascido três meses atrás para registrar no tabelião aproveitou a viagem e foi verificar se a cripta estava pronta.
 Chegando lá no cemitério, Romeu duvidou do tamanho e resolveu entrar para ver se cabia lá dentro, só que, por um acontecimento misterioso ele infartou fulminantemente dentro da sepultura.
Acontece que a viúva só foi dar pela falta do Romeu uma semana depois do ocorrido e chamou os vizinhos para que fossem à Campina procurar pelo marido. E disse que ele ia ao tabelião e depois ao cemitério, mas que fossem procurar também na casa da Dona Isabelita, já que ele tinha pendões para os rabos de saia alheios.
Os vizinhos não tiveram que procurar muito, pois foram por primeiro no cemitério e lá encontraram o dito cujo morto, duro e numa posição de joelhos dobrados e poupança para cima que seria difícil a remoção do corpo.
Demorou mais uns três dias até que a viúva chegou para resolver o impasse. Mandou que cortassem as calças do falecido para tirar o que tivesse nos bolsos e mandou fechar. Assim. Sem mais nem menos, sem velório, sem extrema unção, sem nem mesmo uma vela acesa.
O padre Dilso bem que tentou fazer uma oração, mas a viúva foi embora dali registrar o filho no tabelião e ninguém mais viu ela.
Quem chora no caixão do morto em dias de Finados é a Dona Isabelita.



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