Por
Osmar Pedro Calliari*
Tio
Antero, como todos já devem saber, apreciava pescarias e caçadas. O relato
seguinte foi feito pelo próprio, muitos anos depois do ocorrido, e está aqui
representado exatamente como contou. Vejamos: em uma de suas cinematográficas
excursões pelo sertão, lá para as bandas de Cruzeiro, na década de 30, estando
correndo atrás de seu cão de caça, que corria atrás da caça, viu preocupado seu cão desaparecer, não mata adentro, mas como que tragado pela terra. Aproximou-se
do local e viu uma grande fenda, verdadeira cratera, porém não circular, mas
longa. Aí que seu cão caíra, e ganindo, pedia socorro a uns 30 metros abaixo.
Armou-se Antero de cordas e cipós, e desceu pela fenda. Então constatou que a
fenda, na verdade, era a entrada de uma enorme caverna, que, inexplicavelmente,
permanecia clara como lá em cima, mas não se distinguia a fonte da luz. Servo
de seu espírito aventureiro, pôs-se a explorar tal gruta, tendo observado
detritos e destroços de madeira e metal, e calculou, com toda razão, que ali
poderia haver algum tesouro, ou dos espanhóis, dos jesuítas, dos incas, ou quem
sabe de algum bandido qualquer. Mas para ele, tesouro é tesouro, e não lhe
importava de quem fora. De repente, na parte mais interna da caverna surge um
ser, mais alto que Antero, vestido até os pés, com um manto reto e claro, pés e
mãos grandes e de aspecto benevolente, que não atinou se era homem ou mulher. Não
se sabe qual dos dois ficou mais surpreso com a presença do outro. Destemido, inda
mais quando de posse de sua trabuzana calibre 16, dois canos, Tio Antero
entabulou conversação, e explicou o motivo de sua aparição ali. Ânimos
serenados, o estranho falou como num murmúrio que aquele local era tipo uma
oficina de consertos, e que a matriz terrena deles se localizava dentro da
montanha do Kilimanjaro, na África. O estranho afirmou ainda que provinha de um
planeta, distante, cujo nome não ficou gravado na memória de Antero, e que suas
visitas à Terra eram para trazer conhecimento e tecnologia avançada aos humanos.
Convidou ainda Tio Antero para visitar seu planeta, caso quisesse, cuja viagem
não demoraria muito. Antero não quis, mesmo porque seu destemor não era para
tanto, numa época em que a aeronáutica terrena estava apenas engatinhando. Nisso,
com um zumbido de muitas abelhas, desce, pela cratera, uma nave circular feita
com um metal claro e brilhante, que Antero deduziu ser do mesmo material da
Winchester do Mexicano, um guarda do trem postal. Antero apertou sua arma, e
estava disposto a travar batalha ali mesmo, em defesa própria e de toda
humanidade, se bem que, pensou ele, boa parte dela não mereceria tal esforço,
principalmente o Mexicano do trem postal. Porém, quem desembarcou da nave foi
um ser bem menor que o primeiro, parecendo uma criança e muito amigável e
gentil sorriu para o Tio. Ele não acreditava muito em anjos e demônios, mas não
descartou a hipótese de que ali poderia estar presente um dos dois, ou os dois,
pois talvez, depois daquele arranca rabo sideral no começo do mundo, eles tivessem
selado uma paz eterna e os homens nem ficaram sabendo. Depois de ouvir e ver
coisas que nunca antes tinha ouvido ou visto, Antero se dispôs a regressar ao
seu acampamento, e os dois seres extraterrestres, após prometerem fazer novos
contatos, num gesto amável e de poder, elevaram o embevecido Antero e seu cão
até a superfície, sem auxílio de cordas, cipós, ou outro artefato. O resto do
dia e durante a noite, o Tio, muito pasmo, ficou matutando sobre o acontecido,
e nem se dava mais conta do motivo de estar naquelas paragens. No dia seguinte,
bem cedo, foi correndo em direção à cratera, mas por mais que procurasse não
conseguiu encontrá-la, e o solo estava tão normal que parecia nunca haver tido
uma fenda naquele local. Até o seu misterioso desaparecimento, numa última
aventura, Tio Antero se lamentava e se maldizia por não ter aceitado o convite
de visitar aquele planeta. E quem duvida que os inexplicáveis agroglifos nos
trigais não sejam tentativas de novos contatos com Tio Antero? Ou do Tio Antero
conosco?
*Este e os demais contos da série "Histórias para sempre lembrar"
foram escritos por Osmar Pedro Calliari, pai da nossa querida Michele Calliari
Marchese. Ele partiu ainda muito cedo, deixando um vazio que jamais poderá ser
preenchido. Publicar aqui alguns dos textos que ele deixou escritos é uma forma
de homenageá-lo e tê-lo sempre presente, porque enquanto houver memória haverá
vida, História e histórias para contar.
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