quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

O Ouro do Rio Xapecó



Por Osmar Pedro Calliari*


Esse causo aconteceu na Campina da Cascavel, deveras distante de tudo, poderia dizer que é um Universo único, dada a quantidade de causos sem explicação e misteriosos que acontecem por essas bandas.

Aconteceu bem no dia da Festa do Padroeiro. Estava todo o povo da Campina em frente à Igreja armando as mesas e cadeiras para o almoço e as tendas para as festividades, quando o Belliaris chegou.

Chegou atravessando uma serração dos diabos, montado num cavalo crioulo e trazendo na garupa um saco com seus parcos pertences, pois tinha vindo para ficar. Tinha sabido em Cruzeiro do Sul que a Campina estava em desenvolvimento precisando de homens de coragem para alavancar a comunidade.

Só sentia saudades de sua namorada Gênesi, que deixou para trás “por um motivo justo”, como disse ao Padre Dimas naquele dia. Mas que voltaria a buscá-la assim que pudesse e casariam bem direitinho, como manda o figurino.

O povo ficou alerta, pois acontecem tantas coisas inexplicáveis na Campina, mas logo se acostumou com a presença do jovem caixeiro viajante, trabalhador, ambicioso e idealista.

Justamente naquela época tinha sido construído o primeiro Hotel da comunidade e Belliaris tratou logo de se instalar por ali, tendo um quarto efetivo em que mantinha seu “escritório”. Saía em viagens pela semana inteira e só voltava aos sábados.

Num desses sábados, Belliaris estava tomando chimarrão com alguns conhecidos quando apareceu um senhor com aparência de andarilho e carregando às costas os seus pertences. Inopinadamente chamou Belliaris e lhe comunicou, muito confiante, que precisava de algum dinheiro para comprar mantimentos, pois estava indo para as bandas do Rio Xapecó, onde, tinha a certeza de haver muito ouro e em boa quantidade. Em troca da ajuda, oferecia metade de todo ouro que encontrasse e ainda disse seu nome: “Adolf, senhor”.

Sem uma palavra, Belliaris emprestou o dinheiro.

Essa atitude provocou divertidas gozações entre os amigos que tiveram assunto por muito tempo.

A vida continuou, o namoro continuou as viagens também.

Acontece que repentinamente, e sem aviso, o caixeiro desapareceu, deixando suas coisas no Hotel, como também suas diárias 'impagas', para desespero dos proprietários.

Passados uns seis meses, quando o povo estava quase se esquecendo do acontecido com o Belliaris e tão repentinamente como desapareceu, eis que ressurge, pilotando uma camionete Dodge, americana, 4 por 4, novinha em folha.

Para a alegria dos hoteleiros, pagou todas suas contas atrasadas com juros, deu uma bela gorjeta para a garçonete, pagou adiantado uma rodada de uísque para seus velhos amigos e anunciou que estava deixando a Campina da Cascavel, pois havia comprado uma fazenda de café no norte do Paraná, e era para lá que estava indo.

Dentro da camionete estava a Gênesi, casada, com um feliz sorriso nos lábios, emoldurado pela sua basta cabeleira quase ruiva.

“E o andarilho?”, perguntaram seus amigos.

“O andarilho é meu sócio”, disse Belliaris dando a partida na camionete.




*Este e os demais contos da série "Histórias para sempre lembrar" foram escritos por Osmar Pedro Calliari, pai da nossa querida Michele Calliari Marchese. Ele partiu ainda muito cedo, deixando um vazio que jamais poderá ser preenchido. Publicar aqui alguns dos textos que ele deixou escritos é uma forma de homenageá-lo e tê-lo sempre presente, porque enquanto houver memória haverá vida, História e histórias para contar.



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